Estrutura de três atos: como usar para escrever seu livro?
Às vezes o conceito de estrutura pode parecer muito abstrato quando estamos tentando criar uma história do zero.
Então hoje vamos começar do começo. Vou falar dela: a estrutura de três atos.
Iremos entender como as informações podem ser distribuídas dentro dessa estrutura de maneira a manter os leitores envolvidos do início ao fim.
O que é a estrutura de três atos?
Todas as histórias têm uma estrutura que se resume a começo, meio e fim. Então vamos esclarecer o que é a estrutura de três atos.
Essa estrutura garante a organização da narrativa em três partes principais, cada uma com um propósito específico.
É usada há séculos, encontrada em várias obras literárias e reconhecida como uma boa base de estruturação para histórias coerentes e cativantes.
Por que usar a estrutura de três atos?
É possível escrever histórias sem estrutura ou em estruturas diferentes, mas vale a pena dizer que os três atos oferecem equilíbrio e fluidez para a história.
Com a trama dividida em três partes bem definidas, tu consegue distribuir melhor todas as informações e criar um fluxo narrativo que vai deixar o leitor envolvido em cada detalhe da história.
Além disso, a estrutura de três atos ajuda a estabelecer tensão, desenvolver personagens e construir um clímax emocionante.
Quais são os 3 atos?
Vamos agora nos aprofundar nos três atos principais da estrutura narrativa: Configuração, Confronto e Resolução. Cada um deles desempenha um papel fundamental na construção da tua história.
A Configuração
O primeiro ato, conhecido como Configuração, é onde tu estabelece o cenário e apresenta seus personagens.
É o primeiro contato do leitor com o mundo que tu criou, conhecendo o ambiente, os personagens, seus objetivos e conflitos.
Normalmente nesse ponto da história nós vemos o mundo comum do personagem e é onde vamos incluir incidentes e iniciações que desencadeiam a trama principal.
Até chegarmos no ponto de virada que fará o protagonista ir para o próximo ato.
O Confronto
No segundo ato, o Confronto, a trama se desenvolve e a aventura ganha ritmo. É aqui que os desafios e obstáculos começam a surgir e ganhar proporção. Os personagens precisam enfrentar seus medos e falhas se quiserem chegar no final do livro com alguma chance de alcançar o principal objetivo.
Essa é a parte mais longa, equivale a dois quartos de toda a trama.
Aqui a tensão se intensifica gradualmente. Também é comum que o segundo ato seja marcado por uma reviravolta, um plot twist, surpreendendo o leitor na metade do livro.
No final desse ato, outro ponto de virada surge para forçar o protagonista a entrar na etapa final da sua jornada.
A Resolução
O terceiro ato, conhecido como Resolução, é o clímax da tua história. Aqui, a tensão atinge seu ápice e todos os elementos da trama se entrelaçam.
Entramos nesse ato preparando o terreno para o grande momento em que o protagonista finalmente vai encarar o conflito principal, o único que ainda o separa de seu objetivo.
Essa batalha final é o clímax, o ápice da ação. O momento em que o protagonista vai finalmente vencer ou perder, todas as perguntas pendentes e pontas soltas são resolvidos e o conflito é superado.
Por fim, encerramos com o desfecho da resolução. Mostrando como fica o mundo e os personagens depois que eles passam pelo ponto mais alto de todas a história.
Como usar a estrutura de três atos
Agora que tu entendeu a importância e a estrutura dos três atos, vamos explorar como usar isso na tua escrita.
O que tu deve escrever em cada ato:
Primeiro ato: A Configuração
- Introdução: Apresente o mundo da história e os personagens principais. Mas é importante não fazer isso de maneira mecânica ou sumarizada. Permita que os personagens interajam entre si e vivam normalmente, o leitor aprende observando os padrões de comportamento e algumas coisas não precisam ser contadas, apenas mostre de maneira orgânica. Se precisar de ajuda para aprender a técnica Mostre, não conte, temos um artigo que pode ajudar.
- Incidentes e iniciações: Introduza eventos que desencadeiam a trama principal e motivem seus personagens a agir. Eles precisam começar a perder o controle da própria vida aqui e perceber que perseguir o objetivo principal vai ter um preço.
- Ponto de virada do ato 1 ao ato 2: Encerre o primeiro ato com um acontecimento que impulsione a história para a próxima fase. Nesse ponto o personagem sente que não tem escolha, senão ir atrás do seu objetivo.
Segundo ato: O Confronto
- Ascensão da aventura: Aumente de maneira gradual a tensão e introduza desafios que testem as habilidades e a coragem dos personagens. Essa primeira metade do segundo ato é marcada por muitas dificuldades que vão ficando cada vez mais difíceis, tenha atenção para que eles sejam relevantes para o arco do personagem e proporcionais para cada “nível” de desenvolvimento.
- Grande plot twist: Surpreenda o leitor com uma reviravolta emocionante, mantendo-o curioso. Pode ser uma revelação, uma morte, algo que abale o protagonista e faça tanto ele quanto o leitor se manterem engajados na trama.
- Ponto de virada do ato 2 ao ato 3: Leve a história para o terceiro ato com um momento decisivo que intensifique a trama. Aqui o personagem precisa se comprometer com a batalha final. Nesse ponto ele já deve ter evoluído o suficiente para ser capaz de superar o último grande desafio.
Terceiro ato: A Resolução
- Pré-Clímax: Prepare o terreno para o clímax, aumentando a tensão e a expectativa do leitor. Pode fornecer pistas sutis ou revelar informações-chave que ajudem a elucidar mistérios ou resolver pontas soltas que aumentem a expectativa do leitor para o clímax.
- Clímax: O ponto mais alto de toda a história. Nesse momento as apostas devem ser altas e as consequências das ações dos personagens, significativas. É onde todos os conflitos são resolvidos de forma satisfatória e coerente com o enredo, mesmo que não seja um final feliz.
- Desfecho: Proporcione um encerramento adequado, permitindo que o leitor absorva o impacto da história e se despeça dos personagens. Mostre as consequências da vitória ou derrota do protagonista.
Preciso sempre seguir a Estrutura de 3 Atos?
A estrutura de três atos é uma ferramenta valiosa, mas não precisa ser seguida rigidamente em todas as histórias.
É importante adaptá-la às necessidades da tua trama e ao estilo de escrita. Lembre-se de que a criatividade é fundamental na construção de uma narrativa envolvente. As estruturas não devem ser um limitador e sim uma orientação para que tua história fique ainda melhor.
Exemplos de estrutura de 3 atos
Para ilustrar a aplicação da estrutura de três atos, vamos analisar dois exemplos conhecidos:
A estrutura de 3 atos em “Orgulho e Preconceito” por Jane Austen
- Configuração:
Introdução: As cinco irmãs Bennet são apresentadas, vivendo na Inglaterra do século XIX, onde o casamento é uma preocupação constante.
Incidentes e iniciações: O Sr. Bingley, um homem rico, chega à cidade e chama a atenção de todas as jovens solteiras.
Ponto de virada do ato 1 ao ato 2: Elizabeth Bennet conhece o Sr. Darcy e forma uma primeira impressão negativa dele.
- Confronto:
Ascensão da aventura: Elizabeth e o Sr. Darcy se envolvem em uma série de encontros e desencontros, enquanto suas atitudes e preconceitos são testados.
Grande plot twist: Elizabeth descobre que suas primeiras impressões sobre o Sr. Darcy estavam equivocadas e que ele, na verdade, a ama.
Ponto de virada do ato 2 ao ato 3: Elizabeth precisa decidir se aceitará ou não a proposta de casamento do Sr. Darcy.
- Resolução:
Pré-Clímax: Elizabeth confronta o Sr. Darcy com suas preocupações e hesitações.
Clímax: O Sr. Darcy supera seus próprios preconceitos e prova seu amor por Elizabeth, propondo-lhe casamento novamente, de forma mais sincera.
Desfecho: Elizabeth aceita a proposta do Sr. Darcy e eles se casam, encontrando a felicidade mútua e superando as barreiras sociais que os separavam.
A estrutura de 3 atos em “Crepúsculo” por Stephenie Meyer
- Configuração:
Introdução: Bella Swan é apresentada como uma adolescente que se muda para a cidade de Forks, Washington, para viver com seu pai. Ela se sente deslocada e solitária em sua nova escola e em sua nova vida.
Incidentes e iniciações: Durante seu primeiro dia de aula, Bella conhece Edward Cullen, um colega de classe misterioso e atraente. Ela fica intrigada com ele e sua família, que são diferentes dos outros alunos. Bella começa a perceber que há algo especial e sobrenatural em relação a Edward.
Ponto de virada do ato 1 ao ato 2: Bella descobre que Edward é um vampiro e que ele está apaixonado por ela. Ela decide continuar seu relacionamento com ele, mesmo sabendo dos perigos e das dificuldades que isso pode trazer.
- Confronto:
Ascensão da aventura: Bella e Edward enfrentam diversos desafios e dilemas em seu relacionamento, pois eles pertencem a mundos diferentes. Eles também enfrentam a desaprovação e a suspeita de outros vampiros da família de Edward, bem como a ameaça de outros seres sobrenaturais.
Grande plot twist: Bella atrai a atenção de James, um vampiro perigoso que se torna obcecado por ela. Isso desencadeia um confronto mortal, colocando a vida de Bella em risco.
Ponto de virada do ato 2 ao ato 3: Bella é capturada por James e fica gravemente ferida.
- Resolução:
Pré-clímax: James ataca Bella, forçando Edward e a família Cullen a intervir para salvá-la.
Clímax: Edward confronta James para salvar Bella. Uma batalha intensa com uso de habilidades especiais e força física. Edward derrota James e consegue impedir a transformação completa de Bella sugando o sangue dela.
Desfecho: A resolução acontece com a derrota de James, mas também com a decisão de Edward de deixar Bella para protegê-la de seu mundo sobrenatural, deixando-a desolada. O livro termina com Bella determinada a encontrar uma maneira de estar com Edward, pavimentando o caminho para os próximos livros da série.
Lembre-se de que esses são apenas exemplos e cada história terá sua própria estrutura única de três atos. O importante é entender a essência dessa estrutura e adaptá-la às necessidades da tua própria narrativa.
Conclusão
Dominar a estrutura de três atos é um passo fundamental para aprimorar tuas habilidades como escritora. Ela oferece uma base sólida para desenvolver tramas envolventes e cativar seus leitores do início ao fim.
Uma maneira de distribuir os pontos principais da tua narrativa é fazendo uma escaleta, confira o artigo que fizemos sobre isso e experimente unir as duas técnicas.
1 comentário em “Estrutura de três atos: como usar para escrever seu livro?”
Um artigo muito interessante. Eu tenho uma dificuldade em fazer a estrutura de três atos, e tenho tentado encaixar a minha história dentro da estrutura.