Como escrever diálogos em livros? Dicas para diálogos realistas

Uma parte importante da grande maioria dos textos literários de ficção são os diálogos. Apesar de não serem indispensáveis, existindo obras sem nenhum diálogo que cumprem de forma impecável sua função narrativa, a maioria dos autores escolhe utilizar essa ferramenta no texto.

Muitas dúvidas surgem, porém, com relação à verossimilhança e qualidade das falas durante a história. Por isso trazemos um guia de como escrever diálogos em livros, dando dicas para você trazer diálogos mais realistas e envolventes para a sua obra.

O que é diálogo?

Diálogo, nada mais é, do que a comunicação entre duas ou mais pessoas. Qualquer conversa em que há interação entre personagens pode ser chamada de diálogo. Na literatura, é um recurso importante para o desenvolvimento de vários aspectos da narrativa.

Qual é a função do diálogo?

A utilização de diálogos nas histórias tem diversas funções que contribuem para a criação da narrativa, como:

Avançar a história

Nem todos os acontecimentos da sua história precisam ser contados em formato de sumário, pelo narrador. Alguns diálogos podem conter falas que movem a trama, trazem revelações ou informações de passado que mudem a direção da história a partir daquele momento.

Apresentação e desenvolvimento de personagem

Utilizar as falas para mostrar quem é o seu personagem pode ser uma ótima alternativa às descrições e explicações no corpo do texto. Por meio dos diálogos conseguimos conhecer melhor tanto os protagonistas quanto os coadjuvantes de uma história, e o seu arco pode se beneficiar da interação com demais personagens.

Trabalhar a relação entre os personagens

O melhor momento para trabalhar como dois ou mais personagens se relacionam dentro de uma história é o diálogo. Se estas interações forem feitas da forma correta, o leitor conseguirá absorver não somente a informação que está sendo discutida nas falas, mas também detalhes de construção da relação entre os falantes.

Como marcar os diálogos?

Existem diversas formas de sinalizar a ocorrência de diálogos nos seus textos. Apesar da escrita formal estabelecer algumas regras, a escolha de marcação dos diálogos é de preferência de cada autor, mas o ideal é deixar claro para o leitor onde começam e terminam as falas nos livros, para isso existem algumas opções.

Quais os principais tipos de marcadores?

Marcadores são pontuações utilizadas para sinalizar as falas dos personagens. Os mais comuns são:

Aspas

As aspas duplas (“) são dois risquinhos que ficam acima da primeira e última palavras de um texto, delimitando aquela sessão como uma fala.

Travessão

O travessão (—) é um traço, que, além de outras funções, é o caractere mais usado para demarcar diálogos na língua portuguesa.

Não marcar os diálogos

Uma opção não tradicional, mas também possível, é não usar marcadores de diálogos em seu texto. Esse recurso deve ser utilizado com parcimônia, considerando o público para qual o livro é direcionado e se faz sentido com o estilo da narrativa que está sendo construída, mas pode trazer ótimos resultados se empregado de forma coerente.

Um exemplo é como no recente “A palavra que resta” de Stênio Gardel, que ao eliminar as marcações de diálogo cria um fluxo de pensamento que dita o ritmo da leitura, sendo este um dos grandes diferenciais do livro.

Demais regras e dicas de pontuação em diálogos

Além dos marcadores, existem diversas regras e dicas que te ajudam a formatar seu texto de acordo com a mensagem que você quer passar.

Dicas para escrever diálogos melhores

Alguns hábitos podem te ajudar a desenvolver uma naturalidade e fluência na escrita de diálogos, fazendo com que seu texto se torne mais fluido e envolvente.

Ouça as pessoas

A melhor alternativa para trazer uma característica realista aos seus diálogos, é ouvir de forma ativa como as pessoas conversam na vida real. Observar interações de grupos com a mesma idade, região ou contexto social de seus personagens, anotando suas inflexões e costumes irá contribuir para uma naturalidade em seu texto. Este recurso é especialmente útil para obras contemporâneas, mas também pode ser utilizado para obras históricas, adaptando a coloquialidade conforme for coerente.

Você pode exercitar esta dica observando de forma discreta pessoas em lugares públicos como restaurantes, shoppings e parques, mas também em vídeos na internet e documentários, por exemplo.

Preste atenção nos diálogos que você lê

Leia não somente se deixando envolver na história, mas analise as obras que consome pela perspectiva de um escritor. Observe e anote nos livros que lê os exemplos que funcionam nos diálogos, bem como os pontos de estranheza, podendo aplicar técnicas absorvidas em suas leituras na hora de escrever seus próprios diálogos.

Desenvolva bem seus personagens

Uma ferramenta indispensável para escrever melhores diálogos é o bom desenvolvimento de personagens. Trabalhar uma boa ficha de personagem e estabelecer bem sua personalidade, passado e costumes, faz com que este se mantenha coerente em seus diálogos durante a narrativa, desenvolva sua própria voz e consequentemente, traga diálogos mais envolventes.

Leia seus diálogos em voz alta

Às vezes só percebemos a estranheza de um diálogo ao ouvi-lo, já que durante a escrita nossos olhos acabam se viciando na forma e não conseguem notar algumas nuances que só a fala consegue trazer. Leia seus diálogos em voz alta, e se for necessário peça para alguém alternar os personagens com você, notando sempre as mudanças que poderiam contribuir para uma maior fluidez das falas.

Como escrever diálogos realistas?

Uma constante reclamação entre os leitores são os diálogos que não refletem a realidade dos falantes. Um diálogo irreal pode trazer um distanciamento a quem lê, prejudicando a imersão na história e distraindo da mensagem que o autor quer passar em seu livro.

Corte o irrelevante

Evite apresentações, introduções e demais elementos que não contribuem com a narrativa. Uma técnica muito usada por autores experientes é entrar no diálogo enquanto ele já estava ocorrendo e sair antes que ele termine, mantendo apenas as informações relevantes para a história.

Tamanho

Devemos sempre considerar o contexto de cada obra, ou até cada frase para mensurar qual o tamanho adequado para a ocasião, mas é um contexto de que o meio-termo, em geral, traz maior naturalidade ao diálogo.

Quando frases com poucas palavras são repetidas em um diálogo, surge o questionamento inconsciente no leitor do quão necessárias estas falas seriam para a construção daquela interação, bem como podem cortar o fluxo de leitura.

Falas muito longas, por sua vez, além de cansar o leitor, não são nada realistas, visto que no dia-a-dia não é comum que as pessoas façam grandes explanações em suas conversas. Para isso, utilizar interrupções e alternar entre os personagens contribui com a fluidez da ideia a ser passada.

Faça somente diálogos indispensáveis

Como já dito, diálogos são uma ótima ferramenta, mas se colocados no texto sem necessidade ou de forma excessiva podem prejudicar a narrativa.

Analise se a informação que você quer passar naquele momento se beneficiaria do formato de diálogo ou se ficaria mais concisa na narração, optando pelo que trará mais naturalidade ao texto.

Coloque ações/descrições entre falas

Não resuma seus diálogos às frases trocadas entre os personagens. Alterne com as ações que eles estão executando no momento ou com descrições de fisionomia, ambientação, etc. para uma maior fluidez no texto, bem como para agregar informações relevantes à cena.

Gírias e Estereótipos

Valiosos artifícios para construir a voz do personagem, as gírias, regionalismos e estereótipos devem ser usados com cuidado. Em excesso podem pesar o texto e causar o efeito contrário, fazendo com que as falas pareçam falsas ou exageradas, além de correr o risco de reforçar visões negativas de determinados grupos sociais.

Evite excesso de formalidade

Às vezes é benéfico abrir mão de uma construção gramatical impecável a fim de favorecer a naturalidade do texto, principalmente se o livro se passa nos dias atuais.

Os leitores tendem a imergir mais na narrativa quando as falas dos personagens se parecem com o que costumam ouvir no seu dia-a-dia. Então, se este formalismo não for um elemento relevante para a voz do personagem, priorize diálogos mais próximos da fala cotidiana.

Encontre a voz dos personagens

Não é verossímil que todos os personagens de uma obra falem da mesma forma.

Considerar, não só idade, gênero, contexto histórico, regional e social dos personagens, mas também a personalidade de cada um.  Isso, na hora de escrever os diálogos, contribui para a imediata identificação do leitor sobre quem está falando, bem como para que as falas sejam mais realistas e envolventes.

Cuidado com o Infodump

Prejudicial durante os sumários, o infodump (prática onde o autor passa informações de forma excessiva de uma só vez no meio do texto) também pode destruir um diálogo.

Utilizar as falas dos personagens para explicar algo dentro do livro pode ser uma boa técnica, mas isso deve ser feito aos poucos. Insira apenas as informações indispensáveis, sem que pareça uma palestra para os outros personagens ou para o próprio leitor.

A regra “Mostre, não Conte” deve ser respeitada nos diálogos

Muito mais eficiente do que colocar o protagonista falando que é irônico o tempo todo, é demonstrar essa ironia em suas falas.

Um diálogo muito expositivo é uma perda de oportunidade de passar a mesma informação de forma mais natural e fluída. Então, devemos evitar “contar” através do diálogo, já que é perfeitamente possível “mostrar” o que você quer dizer, pela voz do personagem, deixando a narrativa mais orgânica e original.

Quais são os principais erros cometidos ao escrever diálogos?

Reconhecer os erros frequentes nos diálogos te ajuda a reconhecê-los durante sua escrita e evitar sua repetição.

Não deixar claro quem está falando

A confusão de não deixar claro qual dos personagens está falando cada uma das partes do diálogo pode desestimular o leitor, que terá que ficar voltando e relendo para entender pelo contexto quem está falando o quê.

Muitos “ele disse, ela disse”

Devemos alternar as formas de indicar o personagem que está falando cada frase para não causar uma cacofonia na leitura.

Repetir o nome da pessoa que está falando o tempo todo

Mesmo caso acima, repetir o nome dos personagens, seja no vocativo ou na indicação de fala, torna o texto redundante e cansa o leitor.

Falta de originalidade estrutural

Utilizar estruturas iguais em todas as falas do diálogo. Por exemplo, terminar toda frase com o indicativo de quem falou ou colocar sempre uma ação após cada fala. O ideal, mais uma vez, é variar a estrutura para uma leitura mais orgânica.

Reafirmar o que já foi dito fora do diálogo

Se uma informação já foi dita na narração, repetir ela no diálogo só irá trazer prejuízos na narrativa. É muito comum autores reafirmarem o que está acontecendo por meio de diálogos, exemplo:

“Chegamos à casa de praia de Marcela.

— Bem-vindos à minha casa de praia — ela disse.”

ou

“Renato estava preocupado com o sumiço da mãe.

— Onde será que minha mãe está? — Renato se questionou.”

Além de menosprezar a compreensão do leitor e estender o tamanho do livro sem necessidade, essa prática cria uma redundância que empobrece o texto.

Clichês e frases genéricas

O autor deve se atentar aos clichês em seus diálogos tanto quanto no restante de sua obra. Por mais que na vida real as pessoas falem um ou outro clichê em suas conversas, analise se a presença de frases feitas numa conversa contribui com a narrativa, ou tira a originalidade do personagem e deixa o livro genérico.

Diálogos muito parecidos

Se atentar para, além de diferenciar as falas de cada personagem, variar como o personagem fala em cada ocasião beneficia o texto. Confie em seu leitor. Ele é capaz de reter informações já ditas, e não precisa de reiterações de ideias dentro ou fora dos diálogos para compreender a mensagem que o autor quer passar.

Conclusão

Ao escrever diálogos, nós, escritores, devemos construir muito bem nossos personagens e sempre prezar a objetividade, desta forma as falas são absorvidas pelos leitores de forma orgânica e contribuem para o arco narrativo desejado.

Se você quer saber mais sobre como se tornar uma escritora independente, planejar suas histórias e publicar seu livro, siga-nos nas redes sociais e faça parte dessa gangue de escritoras! 

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *