Como escrever melhor: como melhorar a escrita do seu livro?

Quando falamos sobre escrita é comum reproduzirmos as falácias de que o talento ou a inspiração são o suficiente para uma boa escrita, mas como qualquer habilidade, escrever é algo que pode ser lapidado e melhorado. Neste artigo te damos alguns direcionamentos para que você possa elevar seu texto, o tornando cada vez mais profissional e conseguindo passar suas ideias de forma mais clara e efetiva.

O que significa escrever bem?

Escrever bem não é apenas seguir as regras gramaticais. Além da adequação às normas do português, o que mais caracteriza uma obra bem escrita é o fato dela conseguir atingir o objetivo desejado pelo seu autor, seja passar uma mensagem, contar uma história ou convencer o leitor a consumir algo. Um texto claro, de agradável leitura e adequado ao fim que se propõe é o segredo para uma boa escrita.

Hábitos que te ajudam a escrever melhor

Certos hábitos quando introduzidos na sua rotina podem revolucionar a forma que você escreve, por exemplo:

Leia mais

A leitura frequente é uma das grandes chaves para aprimorar sua escrita. Há quem diga que todo escritor tem que ser, antes de tudo, um leitor, e esta máxima é muito verdadeira. Além de enriquecer seu vocabulário, criar repertório de metáforas e analogias e manter seu cérebro afiado, através da leitura é possível também aprender com os erros e acertos de outros colegas autores.

Escreva sobre o que gosta

Utilizar suas áreas de interesse como aliadas à sua escrita é uma ótima estratégia. Quando escrevemos sobre algo que gostamos nos sentimos mais entusiasmados e treinamos nossa capacidade de escrever de uma forma mais leve e prazerosa.

Escreva sempre

Como já dito, uma boa escrita é uma habilidade a ser aprimorada, e como qualquer outra habilidade, a evolução só vem com o treino. Quanto mais escrevemos, melhores escritores vamos nos tornando, então introduzir a escrita como um hábito diário em nossa vida é essencial para crescermos como autores. Mesmo sem estar trabalhando em um projeto específico, podemos exercitar a escrita frequentement por exemplo, anotando nossos sentimentos, pensamentos e rotina em um diário.

Crie um ambiente propício

Se você tiver a possibilidade, além de estabelecer uma rotina diária de escrita, criar um local confortável para escrever também irá contribuir demais com o seu ritmo de escrita.

Um ambiente agradável, livre de distrações, com suas ferramentas de trabalho (computador, máquina de escrever, papéis e canetas, ou seja lá a forma que escreve) disponíveis de uma maneira fácil e intuitiva, faz com que o ato de sentar para escrever se torne algo simples e rotineiro.

Além disso, pequenos rituais podem tornar o trabalho mais prazeroso. Experimente tomar um chá, café ou qualquer bebida leve que agrade seu paladar enquanto escreve. Ou ainda preparar playlists inspiradoras que conversem com a atmosfera da sua obra, isso pode contribuir para a imersão na escrita.

Planeje o que vai escrever

Muito se engana quem acha que o primeiro passo para iniciar um texto é sentar e escrever. Um bom planejamento, seja para livros ou qualquer outro tipo de redação, faz com que a experiência da escrita seja mais fluida, evita furos na história e bloqueios criativos. Dedicar um tempo para organizar suas ideias antes de colocá-las na estrutura pretendida é um investimento na qualidade da sua escrita.

Se alimente e durma bem

Uma mente exausta e um corpo adoecido não conseguem render da forma mais adequada. Entendo que quando estamos investidos em um projeto a vontade de se afundar em trabalho e acabar negligenciando as outras áreas da sua vida é grande, mas precisamos entender que nossas obras refletem nosso estado físico e mental. Então antes de tudo, se cuide, crie uma rotina de escrita saudável e esteja bem para poder exercer o trabalho da melhor forma possível.

Dicas práticas sobre como escrever melhor

Seguindo as dicas abaixo você pode elevar cada vez mais a sua escrita.

Seja objetivo

Um texto objetivo não significa uma obra pobre ou sem individualidade. É possível manter o lirismo, caso desejado, sem deixar o que você escreve cansativo ou pedante com algumas simples adequações.

Troque advérbios por substantivos

Como toda regra, esta deve ser aplicada considerando as peculiaridades de cada obra, havendo a necessidade os advérbios podem ser mantidos, mas o excesso acaba pesando o texto. Podemos substituir alguns deles por substantivos, por exemplo:

Ao invés de escrever:

“Ela bateu a porta fortemente.”

Você pode usar:

“Ela bateu forte a porta” ou “Ela bateu a porta com força”.

Evite repetições

Tanto as repetições de palavras, como de ideias empobrecem um texto. No primeiro caso, quando essencial, podemos nos beneficiar dos sinônimos.

No segundo, devemos analisar se há uma real necessidade de enfatizar esta ideia por meio da repetição. Às vezes insistir em uma informação que já foi exposta e está sedimentada na cabeça do leitor só torna o texto mais cansativo. Se você já estabeleceu que seu vilão é cruel, não é necessário repetir este fato ou criar inúmeras situações que explicitem a crueldade deste.

Não explique ou descreva o óbvio

O leitor não gosta de se sentir tratado como uma criança. Devemos confiar na capacidade cognitiva do nosso público e evitar explicações de fatos de conhecimento comum.

Quanto às descrições, frases como “Ele estava cansado do peso da mochila que carregava nas costas.” podem fazer quem está lendo revirar os olhos diante da obviedade da informação, já que é normal que as mochilas sejam carregadas nas costas. Este tipo de descrição só deve ser utilizado quando o fato foge do comum. Por exemplo, não precisamos acusar que um cachorro tem quatro patas, mas se no seu livro existe um cachorro que nasceu sem um dos membros é válido descrever em sua apresentação que este tem apenas três patas.

Priorize a voz ativa

A voz ativa é percebida por nosso cérebro de forma muito mais natural e cadenciada do que a voz passiva. Organizar as frases de maneira simplificada deixa o texto muito mais limpo.

Exemplos:

Voz passiva: “Os documentos foram escondidos pelo gerente da empresa.”

Voz ativa: “O gerente da empresa escondeu os documentos.

Notem como a leitura da oração em voz ativa é mais fluída e como a voz passiva nos distancia da imersão no texto.

Não use adjetivos desnecessários

Como no caso dos advérbios, os adjetivos devem ser usados com parcimônia. Quando descrevem algo óbvio ou são apenas uma repetição de algo que já foi dito eles poluem o texto e tiram sua objetividade, além de dar uma sensação de amadorismo quanto à obra.

Adjetivos que expressam características óbvias, como “céu azul”, “lágrima molhada”, “mar salgado” em geral podem ser descartados.

Havendo a necessidade real de reiterar uma informação o adjetivo pode ser substituído por descrições mais elaboradas, como por exemplo:

Ao invés de escrever: “Ela tocou seus braços fortes”

Escreva: “Ela sentiu os músculos de seus braços.”

Prenda a atenção do leitor

Organize as ideias de forma intencional para criar uma narrativa coerente e usando técnicas de storytelling como a antecipação, plot twists e cliffhangers para manter seu leitor interessado. A possibilidade de que ele siga a leitura até o fim da sua obra, leia mais coisas escritas por você e ainda indique seus textos é muito maior.

Evite vícios de linguagem

Vícios de linguagem são desvios não intencionais das regras de escrita, que geram, além de problemas de compreensão, estranheza ao leitor e sensação de falta de domínio da língua portuguesa por parte do autor. Os tipos mais comuns de vícios que devemos evitar a fim de manter nosso texto mais profissional são:

  • Gerundismo – Clássica síndrome de atendente de telemarketing – “Nós vamos estar desativando o seu cadastro.”
  • Barbarismo – Erros de pronúncia, ortografia ou sentido como “excessão, adevogado, asterísco’
  • Pleonasmo vicioso – Os famosos “entrar pra dentro, descer pra baixo, cair um tombo”
  • Estrangeirismo – Uso de muitas palavras estrangeiras sem contexto – “Eu não consegui entrar na vibe com o setlist da after party.”
  • Ambiguidade – Quando é possível entender mais de um sentido na frase – “Maria pediu pra sua irmã levar o carro dela.” – Nesse caso não dá pra falar com certeza de quem seria o carro.
  • Arcaísmo – Palavras em desuso, como “outrossim” ao invés de “também”, “quiçá” ao invés de “talvez”
  • Solecismo – Erro de construção de frases ou combinação de palavras.
  • Concordância  – “Ela pegou a bolsa com as duas mão.” ao invés de “Ela pegou a bolsa com as duas mãos.”
  • Regência – “Eu cheguei atrasado na missa.” ao invés de “Eu cheguei atrasado à missa.”
  • Colocação – “Fábio mostrou-me sua casa” ao invés de “Fábio me mostrou sua casa”
  • Cacofonia – Quando a combinação de palavras gera um som desagradavel – “Ela nunca gostou de mim.”
  • Eco – Rimas ou repetições de sons não intencionais – “Eu meço meu passo e peço que ela passe na posse do presidente.”

Adeque sua escrita

A forma com que uma obra é escrita deve sempre levar em consideração algumas questões se adaptando para a melhor adequação conforme:

Público

Adequar o texto ao seu possível leitor é o primeiro passo para, através da escrita consciente, conseguir que quem o consumir tire o maior proveito da experiência. Se você escreve para jovens adultos, por exemplo, convém evitar uma linguagem muito rebuscada ou acadêmica. Já, se está preparando uma palestra para um congresso, não há problema em abusar de termos técnicos da área.

Formato

Onde sua obra será lida? Se você vai escrever um texto para internet, onde o consumo é prioritariamente pelo celular, é importante adequar sua escrita para a mencionada mídia, usando frases e parágrafos menores, por exemplo. Se é um livro que se estende por muitas páginas deverá programar a divisão de capítulos de uma forma que não canse o leitor. Se vai escrever para um banner, deve escolher poucas palavras para passar a ideia e assim por diante.

Intenção

Toda escrita tem um fim. Seja contar uma história, trazer ensinamento, informação ou até vender um produto. Seu texto também deve ser produzido com a intenção em mente. Em um romance, por exemplo, é necessário que a narrativa cative o leitor, evitando furos e construindo arcos interessantes. Em um panfleto de vendas, a informação deve ser direta e a vocação em segunda pessoa. Um livro infantil que busca ensinar algo pode contar com rimas ou associações fáceis de lembrar.

Como melhorar seu texto?

O primeiro rascunho sempre tem falhas e o processo de revisão é indispensável para aprimorar um texto. Com estas dicas você pode elevar a sua primeira versão à uma obra profissional.

Deixe o texto respirar antes de revisá-lo

Enquanto estamos escrevendo criamos uma relação com o texto e nossa percepção fica um pouco “viciada”, fazendo com que uma releitura muito recente à escrita possa ser falha, deixando passar erros que seriam facilmente perceptíveis após um certo distanciamento temporal da primeira versão.

Espere algum tempo para revisitar sua obra, trabalhe em outro projeto no meio tempo pra ajudar a sua mente a desacostumar da linguagem e só então comece a sua revisão.

Leia em voz alta

Uma forma de deixar seu texto mais coerente e fácil de ser compreendido é lê-lo em voz alta no processo de revisão. Ao ouvirmos o que está escrito conseguimos prestar atenção em coisas que não são tão perceptíveis na leitura silenciosa. Por exemplo aadência, ritmo, acentuação e a existência de possíveis cacofonias ou rimas não intencionais, possibilitando assim correções que deixarão sua escrita muito mais correta e dinâmica.

Peça opinião de terceiros (feedback)

É compreensível que mostrar o que você escreve para outras pessoas gere alguma insegurança, mas é justamente o olhar do outro que mais contribui com as modificações necessárias para a profissionalização da sua escrita.

Por estar muito envolvido com sua obra e saber das informações extra textuais, o próprio autor pode não perceber certos erros, furos, ou incoerências, o que pode ser apontado por outras pessoas.

Na literatura, uma das práticas de feedbacks mais comum e eficiente é a betagem, que explicamos do que se trata neste texto. Mas além disso você também pode contratar uma leitura crítica, revisão, ou ainda solicitar para que alguém de confiança leia e dê sua opinião.

Estude

Existem diversas formas de estudo para melhorar a sua escrita. Desde graduação em escrita criativa, letras ou jornalismo, até cursos e livros específicos sobre a sua área de escrita, além da imensidão de conteúdo gratuito sobre o tema na internet, como o próprio site do Escrevível.

Investir tempo em aprender técnicas de escrita é fundamental para aperfeiçoar a forma que você trabalha e o resultado de suas obras.

Conclusão

Um autor que se compromete com sua escrita está em constante evolução. Seguindo hábitos que te ajudem a levar o trabalho de forma mais prática e saudável, bem como buscando estudar e se profissionalizar, a sua evolução como escritor será refletida em suas obras.

Continue acompanhando o blog Corvejando para mais artigos que poderão te ajudar a escrever cada vez melhor.

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