Pontuação no diálogo: o que é, qual sinal usar e como fazer?
Uma das partes mais importantes de um texto narrativo, são os diálogos. Eles ajudam a compreender melhor o personagem, assim como seu desenvolvimento e pensamentos.
No entanto, pontuar um diálogo corretamente pode ser uma tarefa difícil. Sendo assim, por meio deste artigo, vamos apresentar as principais regras de pontuação no diálogo.
O que é pontuação de diálogo?
Pontuação no diálogo, nada mais é do que a forma correta de pontuar o discurso do personagem, para o enunciado ficar claro para o leitor.
Um diálogo pontuado de forma incorreta, pode, muitas vezes, causar estranheza, assim como a fala e o trecho narrativo podem ser interpretados de forma errada.
Que sinal de pontuação indica um diálogo no texto?
Existem duas formas de marcar seus diálogos. Com aspas, que é mais comum na língua inglesa e o travessão, que usamos na língua portuguesa.
Não existe uma regra sobre qual usar. O importante é escolher um dos sinais e padronizar seu texto.
Travessão
Além de ser usado para marcar os diálogos, ele também pode servir como substituto de vírgula e parênteses em orações intercaladas e para enfatizar uma conclusão.
Exemplos do uso do travessão
- Abrindo diálogos:
— Maria, sabe qual o mercado mais perto?
- Oração intercalada:
Maria foi à padaria comprar pão — acredito eu — sem avisar.
- Enfatizar uma conclusão:
Maria olhou de cara feia ao receber o presente — não era o que ela queria.
Aspas
Aspas também são usadas para marcar diálogos e podem substituir o travessão. São comumente usadas na língua inglesa, contudo, não há uma regra para isso. A escolha fica a seu critério.
Como fazer a pontuação correta em um diálogo?
Antes de aprender sobre pontuação no diálogo, é importante saber como escrever diálogos em livros. É fundamental saber o momento certo de fazer a interrupção da narrativa.
Diálogos representam o discurso direto, o que mostra a fala real do personagem, diferente do discurso indireto, que nada mais é, do que quando o narrador expressa a fala dos personagens com suas palavras.
Discurso direto é usado há muito tempo e é uma forma mais convincente de mostrar o que seu personagem quer dizer, dessa forma, aproximando o leitor com o personagem.
Então, para saber quando interromper a narrativa e inserir os diálogos, é necessário marcá-los de forma clara e pontuar corretamente para não ocorrer falha na interpretação.
Como pontuar diálogo seguido de trecho narrativo com verbo dicendi/sentiendi?
Pontuação no diálogo, pode parecer um bicho de sete cabeças, mas aprender sobre os verbos dicendi e sentiendi, é a forma descomplicada para entender como pontuar. Então, antes de te mostrar como, vamos entender primeiro o que são verbos dicendi e sentiendi.
O verbo dicendi, também é conhecido como verbo de elocução ou declaração. Em outras palavras, esses verbos de elocução, servem para explicar um ato oral e auxiliam na introdução dos pensamentos dos personagens ou narrador.
Alguns exemplos de verbos dicendi: dizer, falar, afirmar, declarar, perguntar, responder, etc.
Já os verbos sentiendi, expressam emoções, reações psicológicas, estado de espírito e ações do narrador ou personagens.
Exemplos de verbos sentiendi: suspirar, gemer, rir, explodir, lamentar, etc.
Com travessão
Quando um diálogo é seguido de um trecho narrativo com o verbo dicendi ou sentiendi, não deve ser pontuado com ponto final. E a narrativa deve iniciar-se com letra minúscula.
Dicendi Exemplos:
— Certo, vamos entrar — falei autoritário.
— Em quinhentos metros, seu destino estará à direita — a voz robótica feminina anunciou.
Sentiendi Exemplos:
— E-eu, eu entendi — balbuciei.
— Fico feliz em saber que está bem — suspirei aliviado.
Contudo, se o diálogo terminar com interrogação, exclamação ou reticências, deve-se pontuar normalmente, porém, a narrativa seguinte ainda irá começar com letra minúscula.
Dicendi Exemplos:
— Acha que Summer ficaria brava se eu o fizesse? — perguntou sem direcionar seus olhos a mim.
— Possivelmente… — respondi.
Sentiendi Exemplos:
— Alisson! Atende o celular! — berrei sozinho na sala de casa.
— Não acredito, isso está mesmo acontecendo comigo? — lamentei, descrente com a situação.
Com aspas
Assim como no travessão, quando houver verbos dicendi ou sentiendi no trecho após o diálogo, o mesmo não deve ser pontuado. Seguido do fechamento das aspas, deve-se começar com vírgula e letra minúscula.
Em caso do diálogo terminar com pontuação (exclamação, interrogação ou reticências), o trecho narrativo subsequente com verbo dicendi e sentiendi, ainda começará com vírgula e letra minúscula.
Exemplos:
“Por favor, prossiga”, disse calmo.
“Tem certeza que estamos no lugar certo?”, perguntei curioso.
“Você está totalmente equivocada!”, esbravejei furioso.
“Não tenho certeza…”, foi o que conseguiu falar, hesitante.
Como pontuar diálogo seguido de trecho narrativo comum?
Aqui segue duas possibilidades, com travessão e com aspas.
Com travessão
No caso do diálogo ser seguido por trecho narrativo comum, ou seja, sem o verbo dicendi ou sentiendi, o diálogo será pontuado (com ponto final, exclamação, interrogação, reticências) e o trecho seguinte irá começar com letra maiúscula.
Exemplos:
— Hum! Mesmo? — Dei um sorriso travesso.
— Você não quer que eu dê detalhes? — Ele arqueou uma das sobrancelhas.
— Então, voltando ao assunto. — Arthur piscou algumas vezes como se estivesse saindo de um transe.
Com aspas
Nesse caso, segue a mesma lógica do travessão. Sem verbo dicendi ou sentiendi, o diálogo deve ser pontuado (com ponto final, exclamação, interrogação ou reticências) e o trecho narrativo comum, segue com letra maiúscula. Aqui, a vírgula após o fechamento das aspas não será necessário.
Exemplo:
“Vamos dar uma volta?” Começou a andar rumo à calçada.
“Sabe, não tem muito o que fazer.” Balanço a cabeça descrente.
“Vamos ao parque?”, ele perguntou. “Tenho certeza que vai amar o lugar.” Começou a caminhar, enquanto o segui em silêncio.
Como pontuar diálogo precedido por trecho narrativo terminado em verbo dicendi/sentiendi?
Duas possibilidades de pontuação no diálogo, são com travessão e aspas que, pode parecer igual, mas veja a diferença abaixo.
Com travessão
Caso o trecho comum termine com verbo dicendi ou sentiendi (trecho anterior ao diálogo), deve-se terminar com dois pontos.
Exemplo:
Finalmente João voltou para sala. Maria, que estava em pé, sentou-se com seus colegas. Ela disse:
— Estou feliz com seu retorno, João. Pensamos que algo ruim aconteceu.
Caso o diálogo seja intercalado por trecho narrativo, não haverá quebra de parágrafo.
Exemplo:
— Esse é um trabalho difícil — respondeu Marcos, cansado pelo esforço, então mais uma vez, disse: — Dinheiro resolveria meus problemas.
Com aspas
Se o diálogo anterior ao trecho narrativo terminar com verbo dicendi ou sentiendi, o trecho deve-se terminar com dois pontos.
Em caso do trecho finalizado em verbo dicendi ou sentiendi for um parágrafo, mas que não inicia com um diálogo, após os dois pontos pode ou não ocorrer uma quebra de parágrafo para introdução da fala do personagem.
Caso haja intervenção do narrador, não há quebra de parágrafo.
Exemplos:
Ninguém ali se pronunciou, então ela disse: “Vamos nos separar, assim cobrimos mais terreno”
“O que acha de um encontro?” O silêncio perdurou e Maria não sabia com responder, então, João continuou: “Por favor, pense nisso”
Como pontuar uma fala dividida em múltiplos parágrafos?
Essa forma de diálogo, é usada quando a fala do personagem é muito longa. Como em monólogos ou algum tipo de discurso.
Então, para não ficar um parágrafo muito extenso, a divisão vai ocorrer da seguinte forma: o início da fala, será sinalizado normalmente com travessão (—), e, quando ocorrer a divisão, os parágrafos subsequentes irão começar com aspas (“). Ela só é fechada ao final da última fala.
Exemplo:
— Senhor Staines, o seu advogado — disse ele — fez nesta tarde um bom trabalho em construir uma péssima imagem para o senhor Carver. Não obstante, seu desempenho, contudo, reside o fato de que uma motivação para infringir a lei não significa uma autorização para infringir a lei: sua má opinião do senhor Carver não lhe dá o direito de determinar o que ele merece ou não merece.
“Você primeiramente não testemunhou a agressão à senhorita Wetherell, nem qualquer outra pessoa, ao que me parece, o testemunhou; portanto, não pode saber sem a sombra de uma dúvida se o senhor Carver foi, de fato, o autor dessa agressão, ou até mesmo se ocorreu uma agressão. É evidente que a perda de qualquer criança é uma tragédia, e uma tragédia não poder ser mitigada pela circunstância; mas ao julgar o seu crime, senhor Staines, devemos pôr de lado a trágica natureza do episódio e considerá-lo puramente como uma provocação, e como uma provocação indireta, devo dizer, para que você cometesse os crimes mais premeditados de desfalque e fraude como forma de retaliação. Sim, você teve motivação para antipatizar com o senhor Carver, para se ressentir dele e até mesmo para desprezá-lo; mas sinto que declaro um ponto muito óbvio quando digo que você poderia ter trazido o seu agravo à atenção da polícia de Hokitika e nos ter poupado um grande incômodo.
“Sua declaração de culpa lhe dá algum crédito. Também reconheço que você demonstrou grande cortesia e humildade em suas respostas esta manhã. Tudo isto sugere contrição e deferência ao adequado cumprimento da lei. Suas acusações, contudo, mostram uma negligência egoísta de uma obrigação contratual, um temperamento excêntrico e decadente e improbidade administrativa, não somente em relação às suas concessões de mineração, mas também aos seus colegas. Sua má opinião sobre o senhor Carver, por mais justificada que possa ser, levou-o a aplicar a lei com as próprias mãos em mais de uma ocasião, e em respeito a mais de uma questão. À luz disso, considero que lhe fará muito bem abandonar por um tempo sua majestosa filosofia e aprender a andar com sapatos alheios.
“O senhor Carver foi acionista da Aurora por nove meses. Ele cumpriu com a obrigação contratual que lhe era devida, e em troca foi mal-recompensado. Emery Staines, por este meio o sentencio a nove meses de servidão, a trabalhos forcados.”
- Livro, Os Luminares
Como pontuar diálogo dentro de diálogo
Um diálogo dentro do outro, se dá quando a fala do personagem, quer ser referir a fala de outro personagem dentro daquele contexto.
Para compreender um discurso dentro do outro, o segundo diálogo deve ser marcado com aspas.
Exemplo:
— De jeito nenhum — disse Dimitri. — Mas vi quando um dos homens do rei veio. O soldado disse: “Vamos levar tudo, não adianta revidar”, eu o escutei falar.
Qual a diferença entre travessão, hífen e meia-risca?
Por último, mas não menos importante, apesar de os três símbolos serem representados por um traço, cada um deles tem um significado diferente.
O hífen (-), que é o menor dos três, serve para:
Unir palavras compostas
Arco-íris, guarda-chuva, bem-vindo, pró-ativo.
Fazer colocação pronominal
Deixá-lo, disse-me, comprá-lo, sente-se.
Formar derivação prefixal
Ex-ministro, micro-ondas.
Separar sílabas
Sí-la-bas.
A meia-risca, ou meio-traço (–) é um sinal gráfico que serve para:
Unir série de elementos enumerados, como números e letras, sendo assim, separando as extremidades de um intervalo.
Exemplo:
A–Z, 2000–2023, Ponte Rio–Niterói
O travessão, como dito no começo do artigo, pode ser usado para substituir vírgulas e parênteses em orações intercaladas, para iniciar diálogos e também para enfatizar uma conclusão.
Conclusão
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4 comentários em “Pontuação no diálogo: o que é, qual sinal usar e como fazer?”
Muito boa a explicação; procurei em vários sites algo que sintetizasse esse aprendizado e sempre encontrei textos que as vezes mais confundiam que explicavam.
Muito bom. Obrigada 😃.
Jesus te ama muito, fica com Deus 😊.
Uma das melhores explicações sobre o tema. Obrigado por compartilhar!
Teoria e exemplos úteis, bastante esclarecedores.